sábado, 8 de dezembro de 2012

Dezembro


Dezembro deixa as cores mescladas. O branco fica azul, o azul fica cinza e o cinza fica preto... tudo meio embaraçado, desde uma palavra errada até a maior besteira que você faz na vida. Dezembro tem som de sinos, de depressão precoce e de dias que poderiam ter sido melhores... Fica tudo meio marrom, te deixa pra baixo e com a cabeça em mil coisas ao mesmo tempo. 

E eu to cansada dessas mil coisas. Minha mente não descansa nem por um segundo há tanto tempo... tanta coisa feita, tanta coisa que devia ter sido feita, tanta coisa que te deixa insuportavelmente ansioso. No final, dezembro é um monte de baboseira e histórias bonitas que você conta pra criança... não passa disso. Dezembro é, sem dúvida, o mês mais depressivo do ano. Cheira a chuva e velório.

Na verdade, eu sempre vou falar das coisas bobas, que ninguém entende e acha que eu sou só mais uma otária dramática sem ter o que fazer da vida. Mas eu só queria que esse som de sino saísse da minha cabeça, me deixasse quieta. Eu só queria a minha mente quieta. Ou talvez eu seja só uma otária dramática sem ter o que fazer da vida realmente.

sábado, 13 de outubro de 2012

Te vejo


Na cor da parede, na cortina, nas minhas roupas, no espelho, na televisão ligada, nos atores do filme, na trilha sonora, nos livros, na estante, na minha cama, no cheiro dos cobertores, no travesseiro, no cachorro de pelúcia, no meu quarto. Na cor da casa, no céu, na estrela cadente, no som vindo da panela na cozinha, no banho, na minha cachorra, nas minhas fotos, no meu computador... nas plantas, no banco esquecido no canto da sala, nas bebidas fechadas, no controle da tv, nas conversas, na rua, na calçada, no bar da esquina. Nos toques do celular, no quadro da parede central da sala, no tapete de crochê, no meu esmalte escuro, nos seus amigos, nos meus amigos, em todos os cães das ruas, nos doces da padaria, no meu programa de tv preferido. Na maçaneta da porta, nas panelas novas, nas panquecas, nas pessoas... nas crianças ruivas, nos lanches do Mc Donalds, no cinema, na Avenida Nações Unidas, no jeito errado que as pessoas falam, nas cores. Na maquiagem do meu rosto, no meu vestido curto, na cor do meu cabelo, na minha pele, nos meus costumes, no meu modo de falar, na minha vida, em mim... te vejo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Só sei falar de amor


Você já foi lá fora hoje? Já viu como o céu tá azul escuro e rosado ao mesmo tempo? Está tão lindo, tudo parece estar se encaixando pra essa ser a nossa noite. Me dá a mão, vamos sair correndo por aí até a gente se cansar e estar em um lugar completamente diferente. Sai da sua zona de conforto e me trás umas flores. Vamos tomar um café naquela lanchonete com aqueles bancos legais, pedir umas panquecas e dois sorvetes. Me faz rir. Me faz ficar apaixonada por você. Vem, me dá a mão. Nós vamos pra casa, jogar o colchão no chão, todas as minhas almofadas coloridas, vamos ligar o rádio e abrir um vinho... ah, liga a tv também, mas deixa no mudo,  em algum filme bobo. Dança comigo? Cuidado com a taça de vinho! Nós poderíamos passar a noite toda sem dormir, jogando vídeo game,  vendo a chuva cair, conversando e rindo. E se a gente fizesse um filho? A noite está tão linda. Sabe, eu quero passar o resto da vida com você, mas nesse exato momento... como tudo está agora, tudo lindo, tudo azul, tudo com cheiro de flores. Me ama. Me aperta, me beija.  Senta aqui comigo, me faz carinho, me conta da sua vida. Qual sua cor preferida? Qual sua música preferida? Vem, vamos dançar...

(ouvindo Vampire Weekend)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Qualquer nome romântico


Queria me teletransportar agora pra outra dimensão com você pra saber se você ainda iria me amar, se ainda iria me contar as suas piadas idiotas só pra me ver sorrir. Você ainda teria cheiro de sabonete floral no pescoço? Nós teríamos tempo pra ficar olhando um pro outro, sem dizer nada, até as duas da manhã? Será que nós ainda não teríamos responsabilidade nenhuma e poderíamos fazer o que nós bem entendêssemos? Será que nós iríamos nos preocupar com o horário de dormir ou então ficaríamos acordados até o dia amanhecer, pensando na vida, assistindo filmes, conversando e rindo como nós costumávamos fazer? Em outra dimensão, seria possível o seu sentimento por mim ser exatamente como era? Talvez você me levasse pra jantar, com uma margarida em uma mão e um cigarro na outra e no fim da noite me levaria pra casa e ao invés de me dar um beijo de boa noite e ir embora, você entraria e nós ficaríamos fazendo mil planos na minha cama.  Será que dá pra você me trazer umas flores? Talvez umas margaridas, um cravo branco e aquela flor azul que eu adoro tanto, mas não sei o nome. Sei lá, vamos fugir... fugir pra bem longe, pra outro planeta, outra galáxia. Vem, me dá a mão.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

La peur de perdre


Cara, hoje eu tive medo de te perder. Tanto, mas tanto medo.

Tive um daqueles sonhos muito reais em que eu era obrigada a aceitar que você não fazia mais parte desse mundo e essa foi uma das experiências mais terríveis que eu já tive.

Devastador, cada segundinho em que eu senti a loucura penetrando pelas minhas veias, trazendo a notícia que todos os nossos planos foram em vão e que nada adiantaria eu passar o resto dos meus dias aos prantos, sem dúvida, devastador...

O mundo não parecia mais o meu mundo. Era como se eu protagonizasse um filme de terror dramático, onde a mocinha perde o rumo da vida.

Você é importante e eu descobri que preciso de você pra não me sentir fora do eixo, você faz o planeta estar completamente onde deve estar. É você. Sempre você. Sempre foi, sempre vai ser. Aqui ou em qualquer outro lugar, dimensão, tempo ou espaço.

Cara...

...

O medo de perder é o medo de nos tornarmos dispensáveis para a pessoa com a qual nos relacionamos. O medo de perder se reveste de mil e uma formas, aparece sob mil disfarces: medo de sermos criticados por alguém, medo de que falem mal de nós, medo de que nos humilhem, medo de sermos abandonados, medo de sermos rejeitados, medo de não sermos importantes, medo de não sermos ilustres, medo de sermos menosprezados, medo de não sermos amados, medo da solidão.


(listen Exogenesis: Symphony I, II and III)

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Se chama Abril, porque abril é amargo (suicide letters III)



Eu olho pro céu e vejo as estrelas
Elas estão desconexas. Porque falta algo.
Elas sabem, eu sei, e toda criatura viva com um pouco de percepção também deve saber.
Elas já não brilham como antes, fraquejam aos poucos.
O mundo é obrigado a conviver com isso.

Ninguém percebe.

O gosto da chuva já não é tão doce. O sol já não me abraça com os raios matinais como fazia antes. Todos os cachorros que eu encontro pela rua não me dão mais o focinho pra um afago.

Eu olho pro céu e as estrelas estão desconexas.

As plantas não estão mais tão verdes assim. Os prédios vem tomando o lugar de todas as árvores que eu costumava conhecer. E aquela terra marrom e fofa... a coitada já foi faz tempo. 
Só restaram as pedras do asfalto, o ar com cheiro de motor de carro e as flores com cheiro de usina.

As estrelas não brilham mais. Elas sabem, eu sei.
Mas ninguém percebe!

O mundo não gira mais tão calmo. Todos estão com pressa. O relógio é mais rápido, o metrô é mais rápido e o sono também. As madrugadas não tem mais filmes, a pipoca ainda tá no armário da cozinha e o cobertor não tem mais o seu cheiro.
Mais uma estrela se apaga. Menos uma música pro mundo. Mais uma pressa pra eles.

Cadê aquele teu vestido florido que você costumava usar? A minha camisa de terça-feira ainda tá amassada... O rádio toca as mesmas músicas antigas de sempre, e por um instante o meu mundo inteiro está em slow motion, a tv ligada pras paredes, como você deixava, o cheiro doce do açúcar queimando, os cachorros da rua latindo pra um gato qualquer, um folheto de loja na mesa, as almofadas sempre chamativas do sofá. As estrelas, o gosto amargo da chuva, o sol frio, os cachorros indiferentes, as plantas sem cor, os prédios ganhando a disputa contra as árvores, o funeral da terra, o asfalto recém nascido, o cheiro da usina nas flores, o mundo com pressa, sem música e sem gosto. A desconexão do planeta. 

Frio.

Todo o caos do universo parece ter uma causa. O gosto amargo que você deixou quando foi embora e eu não sobrevivi. O mundo perdeu seu sorriso, o mundo perdeu as estrelas e a beleza. O mundo te perdeu. Eu te perdi.

Agora eu estou aqui. São três e quarenta e sete da manhã. Sexta-feira. A tv está ligada, mas não há filmes e nem cheiro bom de pipoca. O cobertor ainda te espera aconchegante e eu também. O violão tá aqui do lado, acabei de compor uma música, se chama Abril, porque abril foi o mês em que eu olhei pros seus olhos pela última vez, então abril também é amargo.

As estrelas estão me encarando. Passaram a ser a minha única companhia. Nem o Percy me quer mais por perto. Fugiu no último domingo, não sei onde ele está. Sente a sua falta. As estrelas também sentem.
Eu também sinto, Clarice.

Será que quando você voltar poderia trazer aquele doce da rua que você sempre comprava? 
Nós podemos ter um cachorro e pôr o nome de Kojak, como naquele livro que você ama. Nós vamos ao cinema todas as quintas e domingos, nenhum filme vai nos escapar e quando nós voltarmos pra casa, a cama ainda vai estar aqui, esperando pela gente, chamando e dizendo que a hora é agora. Clarice, diz pras estrelas que você volta, diz pro mundo. Eu não aguento mais tudo da maneira como está. Vamos tomar um banho de chuva e ficar uma semana inteira com gripe, um cuidando do outro... imagina?

O céu tá azul escuro. Bem escuro. Nada brilha... estrelas, onde vocês estão? “Nós também vamos embora, Noel” diz uma delas. “Mas por que?” eu não posso ser deixado mais uma vez. “O mundo não é mais lugar pra nós e nem pra você” e num instante, elas somem. 

É tudo culpa sua! Você é uma traidora mentirosa. Você me prometeu! Nós tínhamos toda a nossa vida pela frente. Por que, Clarice? A culpa do mundo não funcionar é sua sim! Você é sempre a culpada de tudo com esse sorriso lindo e com essas covinhas que ganham qualquer um. Você levou toda a beleza que existia aqui, não levou? Diz que vai voltar, diz?

Você não responde.
E nem poderia.

O silêncio domina o quarto. Maldito seja o dia em que você saiu com aquele maldito carro naquela maldita chuva... tudo por causa de uma maldita reunião. Maldito seja o filho da puta que estava dirigindo na pista contrária, maldito seja, Clarice! Você poderia estar aqui comigo agora! Você deveria!

Meu amor...

Eu não posso suportar mais isso. Eu te prometi, lembra? Eu disse que iria atrás de você até o inferno. O efeito de todos os remédios que eu tomei demoram um pouquinho, mas eu já vou te ver, Clarice! Nós vamos ficar juntos para sempre. Sempre. Literalmente sempre. Não vai demorar, eu prometo.

Me recebe com seu sorriso lindo e suas covinhas? Eu te preciso. O mundo realmente já não é mais lugar pra mim. Meu lugar é com você, aonde quer que você esteja.

O espelho não me reflete mais... nem as janelas, e nem qualquer coisa que faço reflexo. Só o meu maldito corpo ainda tá preso no mundo físico. 

Eu estou indo embora. O pulsar dentro de mim fraqueja e assim eu me aproveito e faço questão de empurrar pra debaixo do tapete todos os restinhos de vida que ainda contém dentro de mim. Não sinto mais nada... nem dor, nem você, nem o mundo. Eu me despeço. Adeus.

A última estrela que ainda insistia em brilhar no céu azul escuro também se esgota. O último feixe de luz do mundo se apaga. A última música é tocada enquanto a tv mostra cenas de Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Um livro cai da estante... Começa a chover. Chuva amarga. Chuva de abril.

...

Olá, Clarice!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Horchata


Volta pras nossas noites de amor? Sei lá, me dá a mão, vamos correr pelas ruas à noite sem ter nenhum destino em mente, só correr. Quem sabe a gente pare em uma praça qualquer e você me abrace e me diga umas coisas legais, coisas bonitas. Depois nós poderíamos ir pra primeira locadora aberta que a gente visse, alugar uns filmes e não devolver nunca mais, o que acha? Os mesmos filmes de sempre, você sabe.

Me abraça, me morde, me beija.

Vem, assiste uns filmes comigo. Vamos ver algum programa bobo, daquele canal que a gente tanto gosta. Vem.

E você vem. E você aceita. A gente dança. Horchata, do Vampire Weekend.

Here comes a feeling you thought you’d forgotten
 Chairs to sit and sidewalks to walk on

A noite não tem fim. Nunca tem, não com você. E a gente fica nesse nosso ciclo vicioso; beijo, amasso, dança. Dança, abraço, sorrisos. O seu sorriso. O que me faz sorrir também e é assim que a gente fica. Pra sempre... ou o que parece ser pra sempre.

Dura pouco, você vai embora no outro dia de manhã. Diz que volta. Sempre diz. E no final sempre volta mesmo. E dói. Mas eu posso pôr Horchata pra tocar e fingir que você está aqui. É o que eu sempre faço.